Escolhi HQs como o tema desta primeira série de postagens porque, em primeiro lugar, sou fã incondicional de HQs; em segundo lugar, porque acredito na potencialidade educativa das HQs como ferramenta para o desenvolvimento da capacidade de expressão, leitura e interpretação, oportunizando o processo de autoria e criação.
Um pouco sobre HQs e Educação:
A compreensão e a análise crítica dos meios de comunicação são dos aprendizados mais necessários para se poder participar produtivamente da sociedade presente e futura. Como educadores, temos que assumir o papel de mediador entre a mídia e o indivíduo, levando o aluno a estabelecer uma relação crítica com os meios de comunicação. Mas apenas nosso discurso, enquanto professor, não basta para despertar o senso crítico dos alunos, pois eles também, sozinhos, tornam-se impotentes diante da sedução dos meios de comunicação e acabam não absorvendo a crítica que a escola quer promover visto que o jovem prefere o padrão ditado pela mídia ao da escola.
As histórias em quadrinhos (HQs) constituem um gênero de massa muito bem aceito entre os estudantes, pois seu formato seqüencial utiliza a mescla entre texto e imagem numa relação interdependente formada pela imagem e pela linguagem escrita. A imagem possibilita que o aluno explore sua interpretação subjetiva, fornecendo o alimento para a sua fantasia. Uma imagem pode ser observada e interpretada de diversas maneiras. Dessa forma, a potencialidade pedagógica das HQs firma-se no fato de que esta atividade proporciona o desenvolvimento da criatividade, promove debate sobre um tema gerador e sobre aspectos estéticos/narrativos da história, bem como, por ser uma literatura de massa, tem uma forte tendência para incutir valores e disseminar idéias. Ainda, a prática de leitura de imagens, auxilia no processo de compreensão dos atos de ler e de escrever podendo ser vista como um suporte à aprendizagem da língua portuguesa e uma grande aliada ao trabalho interdisciplinar como destaca Calazans (2004) quando se refere a HQ: (...)ela permite que seus autores expressem questões científicas filosóficas e artísticas sem patrulhamentos, e, por ser também uma forma de entretenimento e lazer, não encontra resistências por parte dos alunos; é uma linguagem com conotação afetiva de fácil compreensão dos leitores. Waldomiro Vergueiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas em História em Quadrinhos da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, citado por Pessoa (2007), reforça esta idéia quando afirma:
Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente – a interligação do texto com a imagem, existente nas histórias em quadrinhos, amplia a compreensão de conceitos de uma forma que qualquer um dos códigos, isoladamente, teria dificuldades para atingir. Na medida em que essa interligação texto/imagem ocorre nos quadrinhos com uma dinâmica própria e complementar, representa muito mais do que simples acréscimo de ilustrados –, mas a criação de um novo nível de comunicação, que amplia a possibilidade de compreensão do conteúdo programático por parte dos alunos.
Hoje, para estabelecer comunicação, para se informar e interagir com a sociedade, o sujeito deve ser capaz de ler o mundo e suas múltiplas linguagens, sejam elas escritas, visuais ou sonoras. A escola é responsável por oferecer bons modelos de leitura para o aluno, nunca como um fim em si mesma, sempre como um instrumento de prática social de forma a desenvolver as competências necessárias para que os sujeitos se constituam leitores. Ao fazer-se leitor, o sujeito tem a possibilidade de compreender a sociedade valendo-se de um maior alcance intelectual, ampliando, assim, sua visão de mundo. Passar da simples capacidade de decifrar símbolos e sinais para chegar a uma etapa mais avançada, que requer do leitor a capacidade de compreender e dar sentido aos símbolos e sinais, completando a leitura com seu entendimento, sua interpretação e avaliação, interferindo e ampliando a leitura até descobrir nela novos valores constitui-se um desafio para a escola.
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